sábado, 9 de janeiro de 2010

OS COQUEIROS

Nunca pensei
pudesse ver nos coqueiros
coisas de tua alquimia.

Quanto de cálido
os coqueiros anunciam.
Nas palmas longas
-carregadas de coco, água-doce
e sombra,
essência de tua própia alegria.

EXERCÍCIO PARA ELEIÇÃO DE UMA PALAVRA

Não é uma história.
É um corpo de palavras,
um ponto onde chego
após cruzar vários ângulos.
Não é uma história
e sim , uma sucessão de estradas
em que posso demarcar um começo;
jamais um fim.
Mas como não devo deixar
tudo pelos entantos,
busco o acento tônico,
desejo o pesar das cores
e as palavras junras em arco,
- para dizer do indizível.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

OCASO

O amor em mim desenhou um ocaso.
O coração está na curva do rio,
- onde passam os cavalos.

EDIPIANA

Arrumei todas as gavetas
e numa delas encontrei
as mãos brancas de minha avó.
virei sapatos,
achei ratos e fósseis de gat num porão.
Num canto de guarda-roupa
deparei com um quadro velho
onde se desenhgavam os olhos de
minha mãe.

Também vi gavetas
em formato de grandes bocas
a escrivaninha tatuada dos pés de eu pai
e eu, envergada sobre uns livros
brancos e negros
de poesia e culinária.

Encontrei fugaz e na correria
minha primeira anágua,
- obra -prima da minha tia,
dedais ofrecendo-se para as cartilagens
já flácidas
e o sobretudo do vovô
que coloquei sobre o ombro
do meu amado para sair à chuva
numa estrada que não era a minha.
Há fumaça na chaminé.
O carvão é o mesmo das velhas árvores do sítio,
porém sinto um cheiro fátuo
da empregada que morreu bêbada
esperando um filho.
Meu Deus,
onde andam a minha bruxinha
e o pequeno terço de rezar
contra os demõnios das noites insones
de menina precocemente desperta?
O colt 44,
Marlon brando, Glen ford,
heróis favoritos
as minhas noites de velas e serenatas
estão só vívidas na memória.
Eu?
eu continuo no ar da respiração
densa e vertiginosa.
adeus,
vou rezar para Apolo
para que vele minhas noites
de sono solto e desacalmado.

sábado, 2 de janeiro de 2010

INSTANTE

Neste instante,
Recife fica entre o que sou
e o que não tenho.
Nesse intermezzo,
as luzes são magmas
estranhamente lúcidos
de meu pensamento.

O Milagre dos Cajus no Natal do Recife

No arco da ponte
por onde atravesso
vejo esta cidade mais bonita
e sei que devo encantá-la:
Sou a moça que passa
para o motorista largar sua graça.

Dói esta cidade
e em descompasso ao rio, passo.
Num ritmo suava
a minha dor é lavada
pelas suas águas.

Na calçada da igreja
os mendigos estão sediados,
são os homens descalços
e um caju doce
bem que lhes tornaria a boca menos amarga.
São gostosos os cajus,
São Francisco quer uma passa.

Ao pé do altar que guarda
a santa imagem de Chico,
um cajueiro ramifica em cor verde natal
para doar o fruto que brota
a flor de dezembro.

Deus-menino será agraciado
com um magno colar de castanhas
feito pelos habitantes reis-magros do Recife,
onde nasce o milagre.

( in "Poesia Viva do Recife", antologia de poetas recifenses com temática sobre a cidade, Recife - Pernambuco)